O SENHOR YÈ GOSTAVA DE DRAGÕES
«Zi Zhãng foi visitar o senhor Ãi de Lu mas, como este último se tivesse recusado a
recebê-lo durante sete dias, resolveu deixar um recado ao cocheiro: "Foi porque ouvi
dizer que o teu senhor aprecia os letrados que vim de tão longe para o ver. Atravessei
orvalhos e geadas, sofri com o pó e a sujidade e caminhei tanto que os meus pés se
encheram de bolhas. Não me dei descanso para ver o teu senhor e, no entanto, há sete
dias que ele me trata sem cortesia, recusando receber-me.
"O apreço do teu senhor pelos letrados assemelha-se ao gosto do senhor Yè pelos
dragões. O senhor Yè gostava muito de dragões: gravou um dragão no seu gancho,
gravou um dragão no seu cinzel e decorou todos os seus quadros com dragões. Mal
soube disto, o dragão celeste desceu até à sua casa. Porém, quando o senhor Yè o viu a
espreitar pela janela com a cauda à mostra na sala, desatou a fugir. Ficou sem pingo de
sangue, muito pálido.
"Enfim, o senhor Yè não gostava de dragões. Gostava do que se parece com um dragão
mas não é um dragão.
"Ouvindo dizer que o teu senhor aprecia os letrados, vim de muito longe até aqui para o
visitar. No entanto, durante sete dias, ele tratou-me sem cortesia e não me recebeu. O teu
senhor não aprecia os letrados mas apenas aqueles que, parecendo letrados, não o são.
"No Shi-jing lê-se: "Não é possível esquecer o que o coração encerra!" É por isso que eu
me atrevo a deixar esta mensagem.»
LIÚ XIÀNG
(71-6 a. C.)
("O Rosto do Vento Leste - doze textos de prosa clássica chinesa")
[Tradução de Cláudia Ribeiro e Zhang Zhèng-chun]
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