23/12/2008


O SENHOR YÈ GOSTAVA DE DRAGÕES



«Zi Zhãng foi visitar o senhor Ãi de Lu mas, como este último se tivesse recusado a

recebê-lo durante sete dias, resolveu deixar um recado ao cocheiro: "Foi porque ouvi

dizer que o teu senhor aprecia os letrados que vim de tão longe para o ver. Atravessei

orvalhos e geadas, sofri com o pó e a sujidade e caminhei tanto que os meus pés se

encheram de bolhas. Não me dei descanso para ver o teu senhor e, no entanto, há sete

dias que ele me trata sem cortesia, recusando receber-me.

"O apreço do teu senhor pelos letrados assemelha-se ao gosto do senhor Yè pelos

dragões. O senhor Yè gostava muito de dragões: gravou um dragão no seu gancho,

gravou um dragão no seu cinzel e decorou todos os seus quadros com dragões. Mal

soube disto, o dragão celeste desceu até à sua casa. Porém, quando o senhor Yè o viu a

espreitar pela janela com a cauda à mostra na sala, desatou a fugir. Ficou sem pingo de

sangue, muito pálido.

"Enfim, o senhor Yè não gostava de dragões. Gostava do que se parece com um dragão

mas não é um dragão.

"Ouvindo dizer que o teu senhor aprecia os letrados, vim de muito longe até aqui para o

visitar. No entanto, durante sete dias, ele tratou-me sem cortesia e não me recebeu. O teu

senhor não aprecia os letrados mas apenas aqueles que, parecendo letrados, não o são.

"No Shi-jing lê-se: "Não é possível esquecer o que o coração encerra!" É por isso que eu

me atrevo a deixar esta mensagem.»


LIÚ XIÀNG

(71-6 a. C.)

("O Rosto do Vento Leste - doze textos de prosa clássica chinesa")

[Tradução de Cláudia Ribeiro e Zhang Zhèng-chun]

Nenhum comentário: