11/12/2015


A alegria mora no agora – Rubem Alves

"A gente fica esperando que a alegria haverá de chegar depois da formatura, do casamento, do nascimento, da viagem, da promoção, da loteria, da eleição, da casa nova, da separação, da morte do marido, da morte da mulher, da aposentadoria… E ela não chega porque a alegria não mora no futuro, mas só no agora."

                   
Ser feliz é quase sempre um tempo inesperado, então:

Ame mais. Beije muito. Chore com vontade. Seja generoso. Erre! Faça aquilo que mais teme. Grite! Harmonize-se mais. Importe-se menos. Junte amigos. Lute pelo que acredita. Mude de opinião. Namore! Ore! Pense em novas possibilidades… Queira loucamente. Ria frequentemente. Sonhe! Trabalhe com prazer. Use a imaginação. Viva! Zele por você… Seja feliz, dê o valor que você merece.

FELIZ NATAL E UM MARAVILHOSO 2016, COM MUITAS ESPERANÇAS!!
MILHÕES DE BEIJOS PARA TODOS QUE POR AQUI PASSAR!!! 
GABI FARIA           

27/09/2015

Procura da Poesia* - Carlos Drummond de Andrade


Não faças versos sobre acontecimentos.

Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro
são indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a 
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. 
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito 
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

*(Sentimento do Mundo é o terceiro livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1940).


26/09/2015



Olavo Bilac – Poemas
Via Láctea (trecho XIII)

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


(Publicado em  Antologia Poética - Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 28)

12/09/2015


Constatação por Adriana Godoy

queria não ter esses olhos
essa pele
nem essa alma perdida 
que se comove com o mundo

04/05/2015

Bilhetes ( Rita Apoema)

Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas.

29/04/2015


Seiscentos e Sessenta e Seis (Mario Quintana)

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…


Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos…

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.


(Poema publicado no livro "Esconderijos doTempo",
Rio de Janeiro, Nova Aguiar)